terça-feira, 1 de junho de 2010

Muito mais do que parece

Uma Prova de Amor (no original, My Sister's Keeper), a princípio, parece ser apenas um drama chorão sobre uma menina cuja irmã tem câncer. Porém, a opinião do espectador é invariavelmente transformada a cada nova informação agregada à chorona, sim, mas, não por isso boba, história.


A sinopse do filme, até então, fornece o básico: Anna (a sempre fofa Abigail Breslin) passou seus onze anos integralmente em função da doença da irmã, Kate (vivida pela quase-estreante Sofia Vassileva). Mas o impacto não demora a chegar - o filme já começa com a exposição das ideias formadíssimas de Anna com relação à maneira da qual foi concebida. A menina discursa sobre as verdades que veio descobrindo aos poucos acerca da sua real função naquela família, sempre muito segura. Anna foi obra de uma fertilização in vitro, minuciosamente planejada e calculada para evitar o agravamento do câncer de Kate.

A grande questão aparentemente gira em torno de Anna finalmente tomar consciência do uso irracional e desmedido que sua mãe vinha fazendo de seu corpo, em função de reverter o quadro de saúde sua irmã. A partir daí, Anna procura um renomado advogado, conhecido por obter sucesso em quase todos os seus casos, e conta com ele para processar os pais pelos direitos do próprio corpo - o que eles chamam de Emancipação Médica.

O que até parece sensato quando levadas em conta as 8 hospitalizações (6 cateterismos e 2 aspirações de medula óssea) vividas pela menina. Suas reivindicações soam perfeitamente normais, afinal, criança alguma daria conta de viver apenas para suprir as deficiências de outra. O estopim da medida judicial se dá no momento em que Sara, a mãe desesperada (ou apenas a Cameron Diaz sendo ela mesma), exige que Anna doe um rim a Kate.

O filme, então, que antes era apenas sobre uma menina com muita opinião para a pouca idade brigando com uma mãe tomada pelo desejo de manter a outra filha viva, se desprende por alguns momentos de toda a discussão ética e surpreendentemente nos sensibiliza. Quem é Kate, afinal?

Sim, pois toda a polêmica gerada gira em torno de uma personagem que, até então, não se sabe quem é. A partir daí, somos apresentados às belezas e aos medos de Kate. Às experiências que luta para viver, mesmo que escassas, ao longo de seus doloridos quinze anos. São altos e baixos bem mais altos e bem mais baixos que os vividos por aqueles que compartilham da mesma idade que Kate. Ninguém espera encontrar tanto motivo para lágrimas no começo do filme.

Personagens como Brian Fitzgerald (Jason Patric), o pai bombeiro que tenta equilibrar, de qualquer maneira, a bomba-relógio que parece ser aquela família; ou Jesse (Evan Ellingson), o irmão-do-meio disléxico que recebe pouca atenção - embora mereça bastante; e a juíza De Salvo (incrivelmente interpretada por Joan Cusack) são peças-chave na estruturação da obra.

Uma Prova de Amor possui um cartaz que diz pouquíssimo sobre o que há de fato no filme. As ideias impressas em quem assiste ao filme mudam repentinamente. Não é apenas uma discussão judicial, não é apenas mais um caso de câncer, não é apenas sobre amor fraternal. É sobre como mudanças (de plano, de ideias, de rumo, de vida) ocorrem sem que sequer possamos perceber. Que dirá tomar uma atitude.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Da arte de resenhar

É difícil resenhar uma obra. E, como se já não fosse complicado o suficiente, é muito mais difícil resenhar um filme do que fazer o mesmo com um livro.

Uma obra escrita se pode ter em mãos, se pode folhear. Livros são obras de arte palpáveis e analisáveis de acordo com o gosto do freguês - e com a velocidade de raciocínio do pobre coitado.

Resenhar um filme é outra história. Por mais que possamos ir e vir (minha mãe diria rebobinar, tadinha) ao longo da obra no paraíso do controle remoto - cinema é luxo intelectual -, a sensação de controle e domínio sobre o que se escreve não é total. As obras cinematográficas são fujonas, são escorregadias e fugazes. Mas foram elas que eu escolhi.

Vou resenhar pra mim e por mim. Pra poder saber o que eu concluí, porque às vezes eu concluo e absorvo tanto, mas tanto, que nem sei por onde começar. E agora vou saber.